segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Escrevendo...

Já há tanto não uso a tinta e o papel que, certa dúvida me pegou nos dedos antes das palavras.
Quem escreve não é o homem, e sim seu sentimento.
Nos momentos de dor onde a solução é o grito desesperado a plenos pulmões, um alarme de socorro dizendo que também precisamos de ajuda.

Eu escrevo.
Eu não grito.

Minha angústia é transformada nessa tentativa barata de arte. Eu permaneço com o semblante impecável, inescrutável.

As lágrimas também caem de meus olhos. ORA! Mas que artista não chora?

Mas o leitor lê e não sabe que as gotas de uma alma partida, foram derramadas sobre a página que repousa em sua mão.

Todo sentimento que grita no peito e aflora na folha, a mercê de alguém que não entende o que lê.

Alguém me disse que só entende quem já sentiu.
E eu, só escrevo!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

E de repente estou de novo naquela época...

E de repente estou de novo naquela época.

O ano mudou; estou mais velho; velhas estrelas desapareceram; o sol já não me anima mais; as pessoas mudaram, a minha relação com elas um pouco; o sofrimento se fez ouvir; a solidão se tornou amiga íntima; a ilusão mostrou-se verdade; o real admitiu sua inexistência; era mentira a força que nos movia antes; os objetivos ainda são os mesmos e continuam longe de serem alcançados.

E de repente estou de novo naquela época.

O presidente ainda é o mesmo; o circo mostrou palhaços melhores; o povo continua a se distrair; o pão ainda alivia e indigna, ainda nutre e ainda mata; as idéias ainda são as mesmas, ainda são ‘grandes’; as atitudes continuam quase irrelevantes; o individualismo ainda é criticado, suas fraquezas são cada vez mais expostas; o pensamento de ‘rebanho’ ganha força e as tragédias mais impacto.

E de repente estou de novo naquela época.

Os ideais são os mesmos, as atitudes menos agressivas; o amor ainda é o centro das pregações; o egoísmo ainda domina as atitudes.

E de repente estou de novo naquela época.

Agora a pessoa é diferente; o sentimento é mais límpido; a sensação ainda é de impotência; a razão é mais elaborada; o desejo agora é conhecido; o desejo já não é mais combatido nem dominante; os passos ainda são curtos; a previsão tornou-se mais drástica; o fim ainda é desconhecido; a depressão é cada vez mais visível; o orgulho cada vez mais confundido; o medo torna-se eminente, sua contenção já não é mais possível.

E de repente estou de novo naquela época.

O ‘norte’ ainda é o mesmo; as discussões perderam intensidade; o animo desapareceu; a vontade se tornou algo de outro mundo; as perguntas se tornaram inúteis; as respostas ainda não mostraram seu valor.

E de repente estou de novo naquela época.

Os mesmos problemas; o anseio pelas mesmas atitudes; a diferença entre crianças e homens; a diferença entre aquele que se ilude e o iludido; a diferença entre aquele que vive e vivente; a diferença entre protagonista e os outros personagens; a diferença entre o fim desejado e o fim do desejo; a diferença entre o sonho e a lembrança.

E de repente me dou conta que os papéis já não são mais os mesmos, mas é impossível negar que estou de novo naquela época.